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Lula e o “complexo de vira-latas”

fevereiro 2024

Por Arilton Freres,

O presidente Lula sempre nutriu a ambição de elevar o Brasil a membro do Conselho de Segurança da ONU, uma meta que, até o momento, escapou de seus governos anteriores. O poder de veto de um único país, capaz de bloquear decisões, tornou o Conselho de Segurança inerte, uma espécie de dinossauro internacional onde a divisão de poder é um tabu.

Apesar de vivermos em um país com uma classe dominante muitas vezes atormentada pelo “complexo de vira-latas”, como expressou Nelson Rodrigues, o Brasil possui um peso significativo na geopolítica mundial. No entanto, o sucesso internacional do país frequentemente causa desconforto, especialmente quando esse sucesso é acompanhado por polêmicas.

Ao se aventurar no terreno internacional, Lula se depara com polêmicas recorrentes. Um exemplo foi sua postura em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia. Divergindo do discurso das potências europeias e dos EUA, que apoiavam incondicionalmente o governo de Zelensky, Lula propôs ouvir os dois lados e buscar um meio termo. Contudo, essa abordagem mais equilibrada resultou em seu afastamento, levantando a questão de se ele estava equivocado ou se, na realidade, revelou a falta de interesse das partes envolvidas e de seus apoiadores em encontrar uma saída pacífica para o conflito.

O recente episódio envolvendo o conflito entre Israel e o Hamas também destacou a postura incisiva de Lula. Suas críticas contundentes a Israel e a oposição a um cessar-fogo humanitário em Gaza mostraram uma abordagem não alinhada com o senso comum, que frequentemente justifica as ações de Israel como autodefesa. Isso levanta a questão sobre até que ponto a crítica de Lula foi espontânea ou se estava planejada, dado seu papel diplomático em potencial como mediador entre o Hamas e Israel durante sua visita à África.

A repercussão das declarações de Lula foi intensa no Brasil, mas parece não ter abalado seu prestígio internacional. O país continua desempenhando um papel crucial de mediador no G20, conforme destacado pelo chefe da diplomacia da União Europeia, e recebe visitas importantes, como a do Chefe da diplomacia americana em Brasília.

Diante desse cenário, surge a dúvida: Lula, o “animal” político, está correto em prosseguir com seu plano de transformar o Brasil em um expoente na política internacional? Essa questão complexa reflete não apenas os desafios e oportunidades que o Brasil enfrenta no cenário global, mas também a natureza multifacetada das decisões políticas internacionais.


Arilton Freres é sociólogo e diretor do Instituto Opinião.